Tradição renovada || Caixa Preta
O jongo contemporâneo é o resultado de um longo processo de observação e reflexão sobre essa cultura tão brasileira e ainda tão carente de divulgação que é o jongo”, afirma Joe Lima, responsável pelos instrumentos baixo e cavaquinho na banda. Ritmo ancestral do samba, o jongo foi trazido à frente da cena pelo celebrado Mestre Darcy do Jongo, de quem os músicos da Caixa Preta foram discípulos e parceiros.
Augusto Bapt, cantor e compositor da banda, conta que foi ao Quilombo da Serrinha, um verdadeiro quilombo urbano, para conhecer o Mestre, e acabou se encantando pela comunidade e por sua singularidade histórica. A relação de Bapt com o jongo não é nada recente: sua mãe, nascida no Complexo Quilombola Urbano do Engenho Novo, no morro São João, era jongueira, e a tradição vem sendo passada de geração para geração. “Um dos flashes de memória mais emblemáticos e definidores da minha formação musical é a imagem de meu avô, sem camisa, abrindo e fechando no peito sua sanfona de ‘oito baixos’ enquanto eu engatinhava pelo chão de barro batido da sala de sua casa…”, relembra Bapt, saudoso.
Joe Lima explica que “O nome Caixa Preta tem a ver com o mesmo sentido que conhecemos, das aeronaves. Acontece que, em vez das más informações que as caixas pretas dos aviões revelam, a nossa traz cultura, revela coisas inusitadas, música, poesia, informações do mundo lúdico e cheio de africanidade da música brasileira.” É uma caixa de misturas e misticismos, construída a partir de um intercâmbio de linguagens e ideias, exatamente como propõe o Tangolomango em seus intensos ensaios abertos. A Caixa Preta esteve presente no festival em 2009, e repete a dose com alegria e cheia de entusiasmo.
“Não há um momento em particular no Tangolomango que seja mais importante que outros, é tudo muito surpreendente… Tudo se transforma em um grande grupo, cada parte disposta a abrir mão do que sabe pra absorver o que vem do outro.”
Partindo do jongo, que é a base orgânica do trabalho da Caixa Preta, somam-se o funk, o reggae, o jazz, o soul, o blues e o rock. Ritmos populares de origem afro, heranças pop e eruditas: tudo pode ecoar no repertório da banda. Joe Lima, que esteve na argentina algumas vezes, diz que já tocou com músicos de diversos países latinoamericanos, como Bolívia, Chile, Colômbia, Argentina, Panamá, Honduras… Intercâmbios culturais intensos sem dúvida acabam repercutindo nas sonoridades: é o jongo sendo constantemente repaginado e atualizado à luz do século XXI.
Histórico
A Caixa Preta despontou no cenário da MPB em 1998. Durante três anos, músicos da banda foram discípulos e parceiros do Mestre Darcy do Jongo da Serrinha, tornando-se, além de grandes amigos, a banda oficial de suas apresentações artísticas.
Seu primeiro CD, 100% Gonça, foi lançado em São Paulo e percorreu várias casas no interior paulista, além de marcar presença em espaços importantes no Rio de Janeiro. O trabalho deu origem ao “Bloco do Gonça”, que chega a levar 10 mil pessoas às ruas de Ipanema. Divulgando seu segundo trabalho, Jongo Contemporâneo, lançado em 2010, o grupo firma-se no cenário com sua proposta de atualizar o ritmo tradicional.
Ficha técnica
Voz e Composição: Augusto Bapt
Baixo e Cavaquinho: Joe Lima
Trombone: Kátia Preta Nascimento
Guitarra: Robertinho de Paula
Bateria: Marcos Feijão
Percussão: Regis Gonçalves
Trompete: José Carlos
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palavras-chaves: 2011, caixa preta, música + categoria: textos