Tangolomango +10

Tangolomango! A primeira vez em que ouvi este grito de guerra, ele veio da boca de um grupo de garotinhas cheias de malemolência, nos ensaios do festival que já iria completar sua primeira meia dúzia de primaveras. Cheguei tarde, mas incorporei o espírito de tal forma, que posso dizer ter acompanhado desde o princípio dos princípios do Tangolomango. E lá se vão dez anos de existência do festival da diversidade cultural.

Pode-se dizer que o Tangolomango que iniciou suas atividades em 2001 era outro completamente diferente do que existe hoje, aliás. Isso porque a cada ano o festival se reinventa. Não é pouco dizer que não apenas os grupos mudam, mas o formato colaborativo, que é a grande atração em si, também incorpora temporada a temporada uma dinâmica inovadora. Nestes anos todos, acompanhei o modelo do festival se tornar cada vez mais uma criação coletiva, guiada por Marina Vieira, sua idealizadora, mas também pelo pulso firme dos diretores artísticos João Carlos Artigos e Sidnei Cruz, que cedem lugar este ano a Ernesto Piccolo, mais outra novidade. Vi quando o primeiro grupo latino-americano aportou com sua trupe nos ensaios que antecedem o festival e a língua franca que regia esses ensaios aos poucos se adaptou para o portunhol selvagem, típico dos encontros fronteiriços. Este ano acompanho ainda a internacionalização do próprio festival, com sua primeira edição latina, em Buenos Aires, em data a ser confirmada. Antes, no Circo Voador, no Rio, no dia 13 de novembro às 19h, cinco grupos cariocas e cinco portenhos vão se conhecer e se enamorar numa verdadeira mistureba cultural, um caldeirão artístico onde tudo é movimento.

O fascínio que me despertou o Festival Tangolomango se deve não apenas à apresentação final em si, mas à quase transcendental experiência dos ensaios, em que artistas que, por vezes, jamais ouviram falar uns dos outros, se conhecem e participam juntos de um intenso intercâmbio, com dinâmicas corporais, exaustivos exercícios de marcação teatral, e muito mais. Cada parte abre mão do que sabe para absorver o que vem do outro. E, no fim, o público tem a impressão de que se trata de um espetáculo único, como se aquela fosse uma trupe que segue seu itinerário sempre reunida. Aquele é um espetáculo único, sim, porque verdadeiramente não se repete. É criado ali, nos dois dias que antecedem o festival, a partir das várias mãos (e pés) dos artistas, produtores e diretores que o moldam.

Através do Instituto Overmundo, temos colaborado ano após ano com a Mil e Uma Imagens na cobertura e divulgação em mídias sociais do Festival Tangolomango. Overmundo e Tangolomango, cada qual à sua maneira, são pioneiros na formação e animação de uma rede de colaboradores espalhados por todo o Brasil e prontos a falar sobre cultura. De certa forma, o trabalho que desempenham se complementa. É emblemático, portanto, que ambos aniversariem datas redondas no mesmo ano. O Overmundo completa seus cinco pueris anos. Tangolomango ruma à sua primeira dezena. Para comemorar, na dinâmica justa que também reinventamos a cada ano para os preparativos do festival, decidimos por bem esquentar os tambores com uma boa entrevista coletiva. Convidamos os coordenadores de cada um dos grupos participantes a integrar nosso barco numa sequência de pingue-pongues abertos e colaborativos. O resultado, como toda mistura cultural, foi cativante. Como no festival, era um entra-e-sai de participantes, e, cada um que chegava, a conversava girava, mudava de rumos, tangolomangueava. A impressão era de que estávamos diante de velhos conhecidos, ali se reconhecendo. É como se fizesse dez anos eles não se viam. Assinar este texto é quase um ato de cinismo. Não fui eu quem o escreveu. Escrevemos todos. Misturei às minhas impressões, expressões de alguns dos participantes do Tangolomango 2011. É assim mesmo. Estamos todos juntos e misturados. Vida longa ao Tangolomango!

Viktor Chagas
Overmundo

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